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Kalapalo: uma experiência pedagógica decolonial

“Que bom que você veio”, é a frase que abre Kalapalo, curta de animação dirigida pela educadora Daniele Rodrigues, que visitou a comunidade indígena de mesmo nome, localizada na região do Xingu, no estado do Mato Grosso, durante processo de pesquisa. A obra apresenta, de forma lúdica, a vida da tribo e seu ritual mais famoso: o Kuarup. A animação ganha destaque por ter sido produzida e roteirizada pelas crianças do CIEP Poeta Cruz e Sousa, da cidade do Rio de Janeiro, com apoio pedagógico dos educadores.

Desde 2008, quando a Lei 11.465 modificou a Lei 10.639 de 2003, que a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação nacional passou a incluir no currículo oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da temática “história e Cultura Indígena”, para além da Afro-Brasileira. A mudança na legislação atende a uma demanda advinda da sociedade civil, desde a década de 70. Na época, a educação ambiental já era uma obrigatoriedade, de acordo com a LDB. Graças a esses decretos, anos de ensino e discussão no ambiente escolar levaram ao processo pedagógico para produção do retrato audiovisual do povo Kalapalo pelos dos estudantes.  

Durante a experiência pedagógica de mergulho na temática indígena, o povo Kalapalo, além de ceder os relatos sobre sua cultura, ficou à cargo da aprovação final do material. Movidos por uma cultura essencial e estilo de vida, os povos originários assumem como condição de sobrevivência a preservação do meio ambiente e um cotidiano em equilíbrio com os ciclos dos ecossistemas onde vivem. A preocupação em transmitir esses valores foi bem captada pelas crianças por meio de uma narrativa repleta de desenhos que retratam a integração entre o povo Kalapalo e o seu entorno.

A narrativa apresenta, na perspectiva das crianças e para as crianças, a vida e o ambiente do povo Kalapalo e nos presenteia com uma rica experiência de aprendizagem, tornando-se convidativa para o público infantil. Pelas imagens dos bastidores, revelado nos créditos da produção, é possível observar a riqueza do aproveitamento da linguagem artística nas aprendizagens. É interessante, também, observar a diversidade das infâncias e o que apresentam em comum, como a relevância da figura materna, os membros da comunidade, os amigos e o prazer pelo contato com a natureza. 

Sinopse

Ao longo de cinco minutos, somos convidados a adentrar na moradia de uma mãe Kalapalo que está cozinhando para sua filha, enquanto seus amigos a chamam para brincar. Mesmo tentada pela fome e o vislumbre das comidas típicas de sua aldeia, como o peixe e a tapioca, a protagonista da história prefere a brincadeira com seus amigos e pede a sua mãe para pintá-la para o Kuarup, um ritual de despedida dos Kalapalos. Enquanto fotos da vida na aldeia e desenhos se alternam na tela, a narradora apresenta os elementos da festa: pintura corporal, lutas coreografadas e canções entoadas pelos mais velhos da comunidade. As redes são espaço de descanso dos mortos e onde passam para o plano superior, o reino das estrelas.  

Em seguida, a brincadeira passa para as águas do rio Xingó, os sons da película são originais das gravações feitas no povoado,  enquanto as falas das crianças embalam uma exposição de peixes e animais da região amazônica. “Toda essa vida está ameaçada” a índia desenhada chora, o coro surge falando que será um trabalho coletivo para salvar o meio ambiente, o curta de animação encerra com a imagem de um mapa do brasil sendo coberto por árvores.

Animação pedagógica 

A obra foi produzida pelo programa Anima Escola, uma proposta do festival Anima Mundi, que leva desenhos animados para a sala de aula como forma lúdica de ensino, colaborando para o surgimento de novas perspectivas de atividades educativas. O envolvimento das crianças na pesquisa e produção dos materiais teve o apoio dos professores, sob a liderança da diretora do Centro, Marly da Silva. 

O ritual Kuarup do Alto Xingu, estudado e registrado no livro “Ancestrais e suas sombras: uma etnografia da chefia kalapalo e seu ritual mortuário”, do antropólogo Antônio Guerreiro, é um tema complexo. O curta de animação tornou-se uma forma de adaptar suas complexidades ao universo e as linguagens das crianças, que puderam ter contato e aprender sobre os povos originários como protagonistas da construção do conhecimento, sem colocar de lado todo o prazer e a diversão.

Kalapalo é  uma peça audiovisual de cunho educativo que permite às crianças ampliarem sua visão de mundo. É uma excelente recomendação como forma de introduzir a temática dos povos originários para os pequenos e um convite à reflexão sobre a vida e a morte, preservação da natureza e convivência com as diferenças.

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