Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas e Nordeste de Amaralina. Uma região marcada pelo estigma da violência, cuja principal consequência para crianças, adolescentes e jovens locais é a exclusão, uma marca determinada, muitas vezes, apenas pelo endereço em seus documentos de referência. Foi nesse contexto que a Avante – Educação e Mobilização Social adentrou essas comunidades, executando o projeto Viva Jovem.
Voltado para 500 jovens de 16 a 24 anos, moradores do Nordeste de Amaralina, com vistas ao primeiro emprego, o Viva Jovem foi realizado em duas edições, como parte do Programa Viva Nordeste (SETRE). A iniciativa realizou ações de apoio ao desempenho escolar; de formação profissional, pessoal e social; apoio psicossocial por meio de uma tecnologia social desenvolvida pela Avante – o Balcão da Juventude; e identificação e fomento de espaços destinados à ampliação cultural e lazer. Quem conta esse trecho da história institucional é Clarice Valadares, parceira da Avante, que atuou como coordenadora de campo do projeto. “Foi, sem dúvida, uma experiência ímpar em minha vida coordenar ‘em campo’ o Viva Jovem”, disse Clarice em depoimento pelos #20anosAvante.
“O Viva Jovem levou até os jovens participantes muito mais que esse apoio ao mundo do trabalho. Levou também a oportunidade de vivências para além dos limites da Escola Carlos Santana II, onde nossas ações eram desenvolvidas cotidianamente”, lembra Clarice. O projeto proporcionou idas a cinemas e teatros (incluindo um ensaio público da Orquestra Sinfônica do TCA); visitas a museus, ao centro histórico e ao Forte de São Marcelo – momentos marcantes de apropriação de espaços sociais e culturais acessíveis a todos.
“Costumo dizer que o Viva Jovem foi uma experiência que me arrebatou, por inteira, num processo de construção diária de vínculos de respeito, confiança, empatia e afetividade. Muitos foram os conflitos mediados, dramas pessoais compartilhados, dores e frustrações reveladas…impossível não expandir nossa humanidade num contexto tão jovem, carente e aguerrido, portanto, desafiador”, destaca Clarice.
Segundo ela, até hoje, aqui e ali, casualmente, encontra alguns dos jovens atendidos pelo projeto, que relatam suas conquistas, atribuindo importância ao Viva Jovem em suas vidas. “Um dos mais recentes foi o encontro com Ronan – hoje prestador de serviço terceirizado para a Embasa e também ator – que disse ter ‘descoberto, nos palcos, força e fonte de prazer para tocar a vida’, graças às aulas de Fernando Marinho, nosso professor de teatro. Em tom de brincadeira, acrescentou que hoje ‘faz bicos’, gravando textos para rádios, pois passara a acreditar no poder de sua voz, de tanto me ouvir dizer: Seu timbre é de locutor”, conta.
Clarice diz alegrar-se com a constatação de que os melhores resultados precisam de tempo para se tornar tangíveis e que, “mesmo longe de nossos olhos, eles, aos poucos, vão se revelando, aqui e ali, naturalmente.”
Avante
Clarice se emociona ao falar da instituição e afirma que a Avante não vive apenas em suas lembranças, mas em marcas presentes em seu olhar para o mundo, na forma como enxerga as pessoas e em suas esperanças no ser humano. “A Avante está também presente em mim, na saudade dos anos que passei na instituição, aprendendo e fazendo / fazendo e aprendendo, numa constante troca de saberes e fazeres entre colegas e parceiros de trabalho – importante acrescentar que, ao longo de muitos projetos, a Avante me possibilitou conhecer e conviver com pessoas incríveis: umas de comovente simplicidade em sua profunda sabedoria; outras de determinação invejável; e aquelas capazes de dividir seu “quase nada” para compartilhar um ideal. De cada uma delas procuro até hoje preservar um ensinamento”, disse.
“As experiências vividas na Avante aguçaram minha percepção do urgente e ampliaram minha crença no possível – na capacidade humana de enfrentamento, superação e transformação de uma realidade social, pelo caminho da educação, da mobilização e do investimento na autoestima, competências e consciência cidadã de crianças, jovens e adultos”.
Clarice chegou à Avante movida pelo desejo de poder compartilhar projetos que, a distância, acompanhava com admiração. Ela foi trazida por Maria Célia Falcão, ex-coordenadora do administrativo financeiro da instituição, onde reencontrou Maria Thereza e Ana Luiza Buratto, consultoras associadas fundadoras da Avante e, segundo ela, foi acolhida por Rita Margarete – “que, desde o primeiro momento, generosamente, me apontou caminhos por onde, atravessando desafios, pudesse seguir avante, sem perder o foco nos objetivos e metas de cada projeto trilhado. E foram muitos…
“Parabéns, Avante, pelos 20 anos de tão rica trajetória. E muito obrigada por me permitir fazer parte, um dia, dessa história.”