Concretizar o acesso a serviços públicos, por meio de um mapeamento das necessidades e acompanhamento psicossociais, é a essência da proposta do Balcão, tecnologia social desenvolvida pela Avante – Educação e Mobilização Social. Em três anos, o Balcão impactou a vida de 5.400 jovens nas edições realizadas no Consórcio Social da Juventude, Viva Jovem e, de forma independente, na comunidade do Calabar, onde o vínculo estabelecido perdura até os dias de hoje, justificado na história de vida daqueles que foram atendidos pela iniciativa.
“Participar da Avante [Balcão Calabar], para mim, foi super importante, pois pude adquirir novos conhecimentos, fiz novas amizades. Sinto muita saudade dos encontros. A Avante ajudou a formar a mulher que sou hoje. Parabéns pelos #20anosAvante e obrigada por me deixar fazer parte dessa família”, disse Paloma Bonfim, que participou da iniciativa no Calabar, por meio dos grupos de projeto de vida e desenvolvimento e, na época, ainda elucubrava sobre seu futuro profissional. Hoje, Paloma é atriz, com destaque na capital baiana, e trabalhou em alguns filmes, entre eles Trampolim do Forte, do diretor João Rodrigo Mattos.
A proposta do Balcão se constitui no atendimento às demandas sociais, psíquicas e biológicas da comunidade, sendo desenvolvida em duas etapas: mapeamento das necessidades e a realização de Grupos Operativos (Pichon-Rivière), levando atendimento psicossocial para as populações de baixa renda, influenciando na educação, saúde, bem estar geral, e oferecendo apoio no acesso a diversos tipos de oportunidades disponíveis, inclusive inserção profissional, cultura e lazer, por meio da consolidação de parcerias com a rede de serviços e atendimentos disponíveis na cidade.
Atendimento
Foi o que aconteceu com Carlos [nome fictício], que chegou ao Balcão do Calabar (2008/2009) trazido por sua mãe. Em depoimento para equipe do projeto, na ocasião, a mãe de Carlos, 24 anos, morador da comunidade, conta que o jovem ficava a maior parte do dia trancado em seu quarto, apresentando comportamento bastante agressivo.
No Balcão, depois de uma longa conversa com a psicóloga do projeto, falou de seus problemas, revelando que não conseguia dar continuidade a nada que iniciava em sua vida, chegando a ter abandonado a faculdade. Ao longo do atendimento, a equipe do Projeto descobriu que Carlos tinha demandas psiquiátricas e havia abandonado alguns tratamentos, interrompendo a medicação.
Carlos foi encaminhado, por meio de contatos realizados pela equipe do Balcão, para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), no intuito de discutir seu caso com uma equipe multidisciplinar. Após um período de acompanhamento intensivo no CAPS, ele passou a ser monitor das oficinas de artes, dando vazão a um talento identificado nos Grupos Operativos do Projeto, desenvolvendo noções de responsabilidade e compromisso.
O acompanhamento oferecido pelo Balcão não foi interrompido e, pouco a pouco, Carlos retomou suas atividades habituais. A mãe, por sua vez, passou a frequentar o Grupo dos Familiares, também oferecido pelo Balcão, já que a participação da família durante o tratamento é algo bastante profícuo. Após algum tempo, Carlos retomou a vida social e montou um negócio próprio. Ele integrou, ainda, o curso de empreendedorismo oferecido pelo Balcão.
Histórias de vida como essas tornaram o projeto uma referência na comunidade até os dias de hoje. “Quando vou ao Calabar sou abordada sobre quando o projeto irá acontecer de novo”, conta Ivanna Castro, que integrou a equipe do projeto.