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Vozes na Pandemia :: Educação, inclusão e pandemia. E a família, vai bem?

Desde o início da pandemia a Avante-Educação e Mobilização Social vem ouvindo jovens, professores, mães e educadores em sua série: Vozes na Pandemia – uma contribuição nas necessárias reflexões para construção dos dias vindouros. E hoje, neste testemunho para a série “Vozes da Pandemia”, a voz de Andréa Fernandes, uma mãe que provoca os educadores a se capacitarem e a buscarem (também) soluções no ensino para as crianças não típicas.

Depoimento: Andréa Fernandes
Coordenadora da Comunicação da Avante – Educação e Mobilização Social

No dia15 de julho, participei do Bonnie’s Global Café, da World Forum Fundation – “What is Happening for Children with Special Needs and Their Families During the Pandemic”.
Estiveram presentes pessoas de diversas partes do mundo: Índia, Nigéria, EUA, Escócia, entre outros, e eu do Brasil,  sem condições de falar por estar, como de costume ultimamente, com os tempos divididos e a concentração reduzida a 50% de minha capacidade.

Ouvi dúvidas sobre o que realmente é inclusão, dados sobre os desafios das famílias e das crianças, da inclusão online e notícias sobre políticas públicas ao redor do mundo. Me emocionei em alguns momentos e me compadeci dos professores que não têm formação para isso, mas também, do meu lugar de mãe (que dá um trabalhão às escolas….), lembrei que olhar para trás não nos leva para frente. E agora? E agora para todos nós? A inclusão é uma temática? Preencher esse vazio é uma meta? Nós, Avante, nos projetos, tocamos nesse assunto? Provocamos os educadores? Não há espaço/tempo para esperar eles se formarem para as crianças típicas, se aprimorarem, para só então tocarmos nesse assunto. Aceitar os tempos de cada um não é suficiente, é preciso entender essas crianças, acessar suas potencialidades de aprendizagem, saber que acolher – realmente acolher – com soluções, beneficia a todos.

O parecer do atual e inadequado Conselho Nacional de Educação (CNE) coloca essas crianças em estado de espera, como sempre… Não há segurança para elas retornarem às escolas? Então, não há para ninguém! Nas entrelinhas, o CNE sugere “deixe-as em casa – elas são problemas de suas famílias e não precisam estar com outras crianças”. Mesmo as escolas mais acolhedoras (por onde sempre andei) escorregam, olham para os lados, usam de velhos discursos para dizer que se importam – “estamos todos aprendendo”, mas não saem da zona de conforto, não buscam formação para isso, informação para além das famílias que, em sua maioria, não são formadas para a tarefa, não são educadoras. Como mãe de uma criança com deficiência, tenho desempenhado, em parte, esse papel,de tirá-las da zona de conforto.
No Bonnie’s Global Café, foi dito, e dito, e dito o quão as famílias estão perdidas, o quão a Educação a distância desfavorece as crianças/adolescentes com deficiências, o quanto elas estão desconectadas de tudo. Pais típicos, em todos os lugares, reclamam por estarem envolvidos na Educação formal de seus filhos, por não estarem preparados para isso… pais de crianças com deficiência estão desesperados, cansados, ainda mais abalados emocionalmente. Alguém já ouviu falar em estereotipia? Esse é um termo que a gente aprende rápido e que no isolamento social torna-se uma dor. Crianças que se mordem, se batem, se sacodem, gemem, num grau de ansiedade que afeta a todos ao redor – essas coisas as redes sociais não mostram.

Aqui do meu lugar – de mãe solo, com duas crianças com necessidades diferentes – invisível para as escolas e incapaz de lidar com o sentimento de impotência, busquei soluções antes mesmo da pandemia, por um lado, por desistir da ideia de que as instituições de ensino iriam dar conta da aprendizagem de meu filho não típico. Instituições essas que, em geral, fogem do diálogo com famílias típicas, imagine com as não típicas? Também por estar cansada de tantas terapias que prometem interdisciplinaridade, mas que não passam de meras articulações.

Nesse momento, durante a pandemia, as terapias de meu filho acontecem online, a escola acontece online (em todos esses momentos é necessária a minha presença), me tornei fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, pedagoga, psicóloga. Comecei a buscar informações sobre alimentação, suplementação, aprendizagens. Encontrei, pois existem médicos especializados, nutricionistas especializados, educadores especializados – todos, toooodos, mães, principalmente, e pais de crianças com deficiência que buscaram as soluções que ninguém mais parece encontrar.

Encontrei uma única instituição/pessoa, em todo o mundo, que resgatou o trabalho de Maria Montessori, inicialmente realizado com crianças deficientes – ela é brasileira e vive em São Paulo, também mãe de uma criança com Síndrome de Down, que começou um trabalho de formação com as famílias. E é aqui que me encontro.

Muitas famílias ainda esperam por ajuda ou permanecem terceirizando o sofrimento, culpabilizando, aguardando que a tal inclusão aconteça a partir do sistema. E talvez aconteça, quando pessoas como nós, AVANTE, lembrarmos que esse é um trabalho de todos os dias. Não é preciso trabalhar com inclusão para incluir!

Sou uma pessoa de sorte por trabalhar nessa instituição…sou uma pessoa de sorte por ser inquieta e inconformada. Sou uma pessoa de sorte por conseguir acessar uma força que muitas vezes eu duvido estar lá. Sou uma pessoa de sorte!! Se é que a sorte existe. Mas tem dias…

Assim que meu segundo filho nasceu, e o diagnóstico só veio após o nascimento, perdi o emprego no momento que comuniquei o ocorrido à instituição onde trabalhava. Aparentemente, não havia lugar/tempo para eu me dedicar a uma amamentação mais longa. O casamento se desfez e eu ganhei o mundo. Sempre foi uma luta conciliar vida pessoal e trabalho. Esses dias, mais ainda. E reconheço do fundo do meu coração, que só me é possível, com muuuiiiitttooo esforço porque estou numa instituição humana e capaz de acolher, que tem um grau imenso de coerência e que agora provoco para lembrar todos os dias dessas crianças, para lembrar aos educadores que elas existem, que valem a pena e que têm muito a nos ensinar enquanto humanidade, e que buscar soluções para elas (porque existem soluções online, plataformas de atividades, formação específica – online também) os tornará educadores melhores.

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