O brincar como caminho. A esperança no olhar do menino, a energia do fazer que nasce da observação da infância. São algumas das expressões que afloram do contato com esta mulher de imensa grandeza, capaz de gerar movimento e transformação, repletos da leveza e do frescor que nos remete à infância. Hoje, 13 de outubro, Lydia Hortélio, educadora e etnomusicóloga, uma criança de cabelos brancos, uma voz que se levanta em esperança completa 90 anos. Nós a parabenizamos, mas também agradecemos pela jornada e por nos incluir nessa celebração que tão bem traduz a sua obra.
Desde o dia 11, até o próximo dia 15 de outubro, manhã e tarde, o brincar está presente em ação, discussão, cantoria, movimento e esperança no MAM – Museu de Arte Moderna, traduzido em homenagem a essa faísca chamada Lydia Hortélio que, convicta ser esta a melhor forma de celebrar os anos dedicados à meninice do Brasil, soltou a palavra que, em força, se fez ação — como contou Pola Ribeiro, atual diretor do MAM.
Na tarde do primeiro dia (11/10), Lydia falou para uma plateia de olhos sorridentes e coração quentinho: “Igual e diferente, as muitas maneiras de brincar o Brasil”. Numa grande roda, reuniram-se, além do brilho de Lydia, os raios brincantes que a acompanham há muitos anos no movimento de guarnição das infâncias brasileiras: Roquinho, Luciene Silva, Mariana Caribé e Maria Thereza Marcilio.
“Lydia chama para a esperança, a alegria, para tudo de bom para viver, coisas que têm feito tanta falta no nosso País ultimamente. Lydia é dona do coração da Avante, onde ela bota a mão brota, e brota lindo. Muitos fazeres nesses 90 anos e outros fazeres ainda virão”, disse Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante – Educação e Mobilização Social, na abertura das falas de uma tarde que entre cantoria e brincadeiras de roda.
Lydia lembrou de brincadeiras e brincantes, contou a história do surgimento da Casa das 5 Pedrinhas, esse lugar sem paredes, nem portas, uma janela para o brincar, que tem seu nome inspirado no jogo que Lydia mais gosta, e que vai renovando sua vida no encontro com cada um daqueles que abraça a sua causa. Na página virtual do movimento um resumo poético: “é um lugar de BRINQUEDO… de vivência, reflexão e irradiação de CULTURA DA CRIANÇA – aqui entendida como as experiências, as descobertas, o FAZER DAS CRIANÇAS entre elas mesmas, buscando a si e ao outro em interação com o Mundo… ou seja: toda a multiplicidade e riqueza dos BRINQUEDOS DE CRIANÇA”.
Com uma coleção de cinco mil brinquedos reunidos, e 600 cantigas encontradas por meio de pesquisas e devidamente catalogadas, com um CD gravado: “Ô Bela Alice”, vencedor do Troféu Caymmi (2009), Lydia tem toda autoridade quando afirma que a diversidade do repertório do brincar reflete a diversidade do Brasil. Mas também quando afirma que “o Brasil está encoberto, está para começar”, exalando esperança e inspirando disposição para seguir em cada um dos presentes, desejosos que suas palavras se perpetuem e alcancem a amplitude do legado dos seus 90 anos.
“Não vale a pena olhar para trás, só um guia pode nos ajudar, a criança. É preciso aprender menino, como ele é, e tornar-se o menino que você deseja. Eu digo do coração, mas não acreditem em nada do que eu digo, vá buscar a sua versão, porque é ‘igual e diferente’”, disse Lydia Hortélio, convocando, incitando, insuflando a infância que há em cada um.
A semana da Criança no MAM-Bahia traz uma programação extensa com sessões de cinema, vídeos, bate-papos, rodas, jogos e brincadeiras para crianças, completando 16 atividades ao longo da semana. Todas as atividades são gratuitas e abertas a qualquer interessado. A realização é da Casa das 5 Pedrinhas, Espaço Imaginário, Carretel Cultural, Avante – Educação e Mobilização Social, Corrupio Música para Crianças e MAM – Bahia.