Feira de Troca de Brinquedos veio para ficar

Um dia antes das eleições municipais, a infância ocupou o Parque da Cidade para a primeira versão da Feira de Troca de Brinquedos em Salvador. O evento, além de ter sido um momento de diversão e aprendizado, foi visto como uma ação de extrema importância na busca de mudanças sociais. “Não foi somente uma brincadeira séria, no sentido de usar a ludicidade para alcançar objetivos importantes”, diz Ana Oliva, integrante do Movimento Roda Gigante e assistente técnica da secretaria executiva da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), da qual fazem parte as instituições organizadoras do evento. Segundo ela, foi também um evento político por ter ocupado um espaço público com uma ação que busca mudanças significativas na sociedade a partir da valorização dos direitos das crianças.
E foi realmente uma ocupação. No espaço utilizado pelo evento, o colorido da decoração, as brincadeiras, as músicas, tudo tornou o Parque da Cidade ainda mais bonito e mais acolhedor para a infância. “Precisamos que os políticos pensem a cidade como um ambiente acolhedor e propício para as nossas crianças se desenvolverem com mais possibilidades de serem bons cidadãos”, acrescentou Ana Oliva.
Para os pais foi um momento único e pleno de aprendizados. “Não pensava que os brinquedos usados de meu filho tivessem ainda um valor tão grande. E a alegria que eles proporcionaram a outras crianças só não foi maior que a minha ao ver meu filho negociando uma troca cujo valor dos objetos não estava nos preços, e sim no encantamento”, relatou a atriz Márcia Andrade enquanto seu filho Gabriel, de cinco anos, tirava sua foto com a máquina de brinquedo trocada por um carrinho.
Enquanto as crianças escolhiam os brinquedos que estavam dispostos em um banco de cimento circular amarelo, adultos brincantes chamavam pelo megafone os meninos e meninas cujos nomes estavam etiquetados nos brinquedos escolhidos: “Maria Piton, Juliana Rios quer fazer uma troca com você!”. “Achei legal a ideia de não ajudá-los, de não interferir; eles tiveram que negociar sozinhos. Minha filha Julia olhou meio sem jeito para mim antes de negar uma troca, mas depois entendeu que podia dizer não e acabou negando três vezes antes de escolher uma outra coisa para trocar pelo seu leptop”, relata a bióloga Fabiana Nonato.
Para sua filha Julia Leonelli, de 10 anos, a troca de brinquedos foi uma “experiência feliz”. “É muito mais legal que comprar um brinquedo novo. Primeiro por não gastar dinheiro e segundo por conhecer outras crianças”, disse Julia, que acabou trocando o leptop de brinquedo e uma casinha por um ursinho de pelúcia e uma cadeira divertida, que farão a felicidade de mais “pessoas”. “A cadeira é para minhas filhas Melany (sua boneca predileta) e Mel (uma calopsita), elas vão adorar”, informou.
O exercício do desapego foi o que a pedagoga Andrea Alves destacou como sendo o aspecto mais importante do evento. “Meu filho Fernando Jorge é realmente apegado aos seus brinquedos e no começo foi muito difícil. Ele chegou a se chatear com a brincadeira. Conversei com ele e depois da primeira troca as coisas foram mudando e ao final ele estava se divertindo”, relata. O pai de Fernando Jorge, o advogado Mario Mendes, espera que novas edições da Feira de Troca de Brinquedos sejam realizadas. “São experiências vividas pelas crianças que não podemos reproduzir em casa. Tenho certeza que na segunda vez meu filho vai estar muito mais aberto à possibilidade de se desprender de seus brinquedos”, concluiu.
Por: Carlos Vianna

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