ENTREVISTA: Formação continuada do coordenadores pedagógico por uma Educação Infantil de qualidade

Simone Almeida é coordenadora do setor de Educação Infantil da Rede Municipal de de Paulista (PE). Ela é parceira da Avante – Educação e Mobilização Social desde a execução do programa Paralapracá, em Olinda (PE), onde desempenhava o mesmo papel. Na ocasião, a Avante desenvolvia ações de formação de profissionais da Educação Infantil em parceria com cinco secretarias municipais de Educação do Nordeste, visando contribuir para a melhoria da qualidade do atendimento às crianças. Atualmente, a Avante desenvolve ações de formação em Paulista, como parte do Programa Melhoria da Educação (Itaú Social).  

Em Olinda, Simone foi uma das responsáveis pelas formações nucleadas, de iniciativa da Rede Municipal de Olinda, para atender a uma especificidade da realidade local, com um baixo número de coordenadores pedagógicos nas instituições. “Organizei a nucleação das escolas para que as coordenadoras pedagógicas pudessem dar formação continuada a todos os professores de cada núcleo, inclusive para aqueles que atuavam em instituições que não tinham coordenadora pedagógica”, contou em uma entrevista, na qual ela fala sobre a nova realidade em Paulista, a partir da experiência vivida em Olinda, cujo legado na política pública do município, entre outras coisas, foi a valorização do brincar como linguagem significativa da aprendizagem da criança e o fortalecimento do coordenador pedagógico em seu papel de formador dentro das instituições, impactando no serviço oferecido às crianças.

Diagnóstico

Levantamento de dados realizado pela Avante em Paulista e compilados no documento Diagnóstico da Qualidade da Oferta da Educação Infantil mostra que a Rede vive uma realidade semelhante a tantas outras no País – a necessidade de um trabalho efetivo de formação continuada para empoderamento desse profissional, chamado de supervisor no município. 

O Diagnóstico foi apresentado à comunidade local em agosto pela instituição, trazendo a público informações que estabelecem o ponto de partida para as formações continuadas dos educadores do segmento, iniciadas pela Avante desde maio (2019). Na devolutiva, estiveram presentes atores chaves para a melhoria do serviço no município. Num primeiro momento, com os secretários executivos de desenvolvimento educacional, Emanuel Souto; de planejamento e finanças, Catarina Sobral; além da gerente pedagógica da Rede, Marilucia Francisca da Silva; e a coordenadora do Setor de Educação Infantil, Simone Almeida. 

Leia entrevista na íntegra:

Conte um pouco sobre a experiência em Olinda (PE)?

SIMONE ALMEIDA: Tive a oportunidade de vivenciar a experiência do Paralapracá [frente de formação de profissionais da Educação Infantil, realizada pela Avante em parceria com as secretarias municipais de Educação] em Olinda. O foco foi o processo formativo com os coordenadores pedagógicos, pois naquele momento esses profissionais tinham, basicamente e estritamente, a função administrativa, e não haviam se empoderado da sua real função formativa. 

Havia um distanciamento dos coordenadores com os professores e, principalmente, com as crianças. A Educação Infantil não tinha visibilidade dentro das escolas e a partir do momento que aconteceram esses processos formativos, as supervisoras [coordenadoras pedagógicas] começaram a se empoderar, rever seus conceitos, ressignificar, se confrontar. Vi a rede praticamente mudar de paradigma. Percebemos que os coordenadores começaram a olhar para o segmento, chegar junto dos professores, pensar com eles, planejar as experiências para as crianças. Automaticamente, as crianças e as turmas de Educação Infantil começaram a ter visibilidade. Esse empoderamento permitiu que os supervisores tivessem noção do seu real papel formativo dentro da escola.

É possível fazer algum paralelo dessa experiência com a realidade de Paulista (PE) hoje?

SIMONE ALMEIDA: Estou tendo a oportunidade de estar em Paulista, também na função de coordenadora da Educação Infantil. Há dois anos temos feito formação nessa perspectiva de trazer a professora para a ressignificação de sua prática, para pensar as experiências, planejar as experiências com as crianças. Mas, com a chegada do Itaú Social e a Avante, com o programa Melhoria da Educação, o foco da Rede se volta para o processo formativo específico com os coordenadores pedagógicos, também com gestores e com professores, periodicamente, como vi acontecer lá em Olinda. O que percebo é que as mesmas angústias, mesmas situações que tínhamos lá, no início, também existem em Paulista. São escolas com turmas de Educação Infantil, que não têm visibilidade, ou têm pouca. O tempo da supervisora [coordenadora pedagógica] praticamente fica voltado, em maior quantidade, para as turmas do Ensino Fundamental. Elas pouco têm tempo para sentar, rever sua prática, reunir-se com os professores, planejar, trocar ideias. Vejo essa realidade aqui. 

De que forma o Diagnóstico pode impactar nessa realidade?

SIMONE ALMEIDA: Com o recebimento do diagnóstico feito pela Avante, de como está a Educação Infantil no município, percebemos quanto essas supervisoras têm apagado incêndios ou têm se sentido desvalorizadas pelo fato de não ter uma formação específica para elas, uma temática específica para função. Vemos também, no próprio Diagnóstico, a fala das professoras dizendo que não há apoio. É uma realidade que já sabíamos, porém o Diagnóstico vem com um documento, uma força de mostrar para o município o seu próprio retrato e dizer quais são os caminhos possíveis de serem feitos. 

Então, é isso que estamos fazendo agora. Fizemos a análise do documento, que foi muito importante, e agora vamos dizer o que faremos, quais são os planos, as metas, qual é o objetivo. Isso enquanto secretaria de educação, escolas, creches, CEMED [Centro Municipal de Educação]. Então, o diagnóstico veio pra dar luz, para dar visibilidade às situações que nós temos no município e que precisam melhorar, reforçando o que já tem de bom, de positivo, e ressignificar aquilo que é necessário ser feito. 

As formações já iniciaram. Você já percebe alguma mudança?

SIMONE ALMEIDA: Com a chegada dos processos formativos específicos para as supervisores repensarem sua prática, pararem um pouco pra ler, refletir, já tenho visto frutos. Já vemos um início de movimento das supervisoras se empoderando, chegando junto dos professores, olhando para a Educação Infantil, indo para as turmas desse segmento, pensando, planejando, olhando para um ambiente que não está propício para criança pequena, então vejo um movimento muito interessante. Acredito que temos uma estrada muito legal a seguir. Há um solo muito fértil e as sementes estão sendo plantadas. Agora vamos cultivar para que essas sementes floresçam. 

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