AVA reúne formadores em torno da tematização da prática

O segundo bate-papo do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do projeto Paralapracá estava marcado para as 19h30 do dia 9 de abril, mas meia hora antes a sala do bate-papo já se movimentava: cerca de 15 pessoas, entre coordenadoras/formadoras e assessoras do projeto Paralapracá, aguardavam o início da conversa com Rita Margarete dos Santos sobre a questão da tematização da prática. Assessora do projeto Paralapracá em Camaçari (BA), Rita é mestre em educação e contemporaneidade e coordenadora da Linha de Formação de Educadores e Tecnologias Sociais da Avante – Educação e Mobilização Social, parceira técnica do Instituto C&A na implementação do projeto Paralapracá de formação de profissionais da educação infantil. “Rita nos dará pistas de como uma boa tematização é feita”, adiantou Lilian Galvão, coordenadora do AVA do projeto Paralapracá. De acordo com o caderno de orientação O coordenador pedagógico e a formação continuada, material que integra a Mala Paralapracá, tematizar é mais do que compartilhar. “Implica dar um passo além, que é o de refletir sobre uma determinada prática. O que também difere da ideia de julgar o trabalho do outro. É por isso que a tematização pressupõe um ambiente colaborativo, de confiança e parceria.”

“No projeto Paralapracá”, ressaltou Lilian, “tematização é ajudar a olhar para algo e tratá-lo como um objeto de reflexão, levantando teorias a seu respeito. E por que ‘da prática’? Porque ela consiste em analisar as atividades, as ações que ocorrem no interior das instituições de educação infantil, com as crianças, para ajudar as coordenadoras pedagógicas/formadoras a perceber as intervenções necessárias que devem ser feitas”, explicou.

Na hora combinada, mais formadoras chegaram à sala, e a conversa começou animada. Em clima de reencontro, os participantes do bate-papo dividiram-se entre perguntas encaminhadas para Rita e a troca de ideias no grupo.

Lilian pediu a Rita que começasse definindo tematização da prática, e a explicação foi precisa: trata-se de uma estratégia de formação que analisa situações do cotidiano, baseada numa referência teórica. “A tematização é um momento que facilita muito a professora perceber a distância que existe entre o que ela pensa que faz e o que realmente faz. É o momento de aproximação entre discurso e prática”, esclareceu Rita.

A conversa durou quase duas horas e, ao longo de todo o tempo, os questionamentos serviram como ponto de partida para muitas reflexões. Fabiola Bastos, coordenadora de monitoramento do projeto Paralapracá, perguntou se apenas observar a prática e falar sobre ela poderia ser considerado uma tematização da prática. “Pode-se tematizar a prática a partir de uma observação. Mas nem toda observação e comentário posterior podem ser considerados tematização”, explicou Rita.

Clevanilda Sousa, coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Luís Carlos Prestes, que participa do projeto Paralapracá em Maracanaú (CE), destacou que a tematização da prática ainda traz alguns temores e é ação tímida na realidade de sua escola: “Gostaria de saber se é mais viável partir de questões da própria instituição, ou utilizar situações de outros espaços para fazer as abordagens”, indagou.

Rita salientou que a tematização exige ambiente de confiança e de colaboração: “É natural a resistência e o medo da exposição. Se você perceber que o grupo ainda está resistente, melhor começar trazendo situações de outra instituição. Isto não compromete a qualidade”, afirmou. “Penso que Rita tocou num ponto essencial: sensibilidade, percepção, vínculo com o grupo e conhecimento do perfil do grupo”, emendou Lilian.

Para tratar dos receios que a tematização da prática pode trazer, Rita recorreu a sua experiência como professora: “Participei de várias situações tendo a minha prática como centro de análise. Realmente é muito difícil a gente se sentir na berlinda. Mas quando o grupo compreende como um espaço de formação, não de avaliação, fica muito gostoso e gratificante. A professora autora da prática em discussão sai com milhões de ideias e mais segura do seu fazer”, afirmou. “Acho que a primeira preocupação do formador é fazer o exercício de se colocar no lugar do professor. Assim fica mais fácil compreender por que ele faz ou não muitas das coisas que a gente critica ou deseja que ele faça”, salientou Rita.

Selma Bedaque, assessora do projeto Paralapracá em Natal (RN), completou: “À medida que tematizamos, podemos contribuir para a autonomia do professor. Ele aprende a tematizar com o grupo e, no cotidiano, observa suas ações com as crianças”. Mônica Samia, coordenadora de implementação do projeto Paralapracá, chamou atenção para a importância da reflexão: “É preciso ajudar as pessoas a construir uma narrativa que não seja de julgamento, mas de reflexão. Por que estamos acostumados a dizer: eu acho isso, eu acho aquilo. Que tal experimentar um ‘será que…’?”, questionou.

Clevanilda reiterou a colocação de Mônica, dizendo considerar fundamental o momento de reflexão, tanto para o crescimento dos educadores, quanto para o progresso das crianças. “Sempre que pensamos melhor sobre nossa prática, a criança evolui em seu protagonismo.”

Mônica concordou e aproveitou para incentivar o grupo: “É isso! E não há crescimento sem aprendizagem! Aprende-se sobre a prática refletindo sobre ela. Esta é uma das formas mais potentes de aprendizagens dessa natureza.”

Reflexões e aprendizagens foram a marca do bate-papo, que chegou ao fim quando já passava das 21 horas. “Estamos aprendendo com as novas ferramentas de aprendizagem, criando um clima que nos aproxima e impede qualquer separação. O projeto Paralapracá é uma rede de gente forte, inteligente e engajada, que está em cinco cidades fazendo enorme diferença na vida das crianças. Estar aqui, numa quinta-feira, às 21 horas, é um grande exercício de compromisso e responsabilidade”, celebrou Lilian.

Fonte: Site Paralapracá

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