América Latina bate recorde de participação em fórum mundial pela Primeira Infância

Mais de 30 mil crianças nascem todos os dias na América Latina. Metade delas no Brasil e no México. Em 2010, 50% dessa população estava entre zero e cinco anos – primeira infância -, com 1,2 anos a menos de expectativa de vida do que um europeu, por exemplo. Esses foram alguns dos dados compartilhados por Maria Thereza Marcilio, presidente da Avante – Educação e Mobilização Social e coordenadora regional para a América Latina dos Global Leaders for Early Childhood (líderes globais pela primeira infância). A fala aconteceu durante o seminário para o grupo de Global Leaders (2019-2020) de todo o mundo, no World Forum on Early Childhood Care and Education, em Macau (China), esse ano (2019).

As informações se referem a um continente que nasceu na desigualdade e até hoje suas crianças, familiares e toda a sociedade vivem os impactos dessa realidade; uma região rica em experiências inovadoras, que tem feito avanços significativos no reconhecimento dos direitos e na elaboração de normas e leis. Essa situação, até certo ponto paradoxal, mobilizou Maria Thereza a militar pela ampliação da participação de países da América Latina no fórum mundial, em especial como Global Leader (GL). “Fui Global Leader em 2009 e passei a ser coordenadora regional para a América Latina em 2013, meu propósito é aumentar a participação e fortalecer a participação do continente no World Forum. Esse ano me envolvi pessoalmente para conseguir o maior número de apoiadores para viabilizar a participação dos GL da América Latina, e foi uma estratégia bem sucedida”, conta.

A participação do continente nunca foi muito expressiva. Uma das razões, acredita Maria Thereza, “é porque todo o fórum é conduzido em inglês, o curso a distância que os GL tem que fazer como parte do programa é em inglês, todas as atividades são basicamente em inglês. Os países da África, Ásia, que foram colonizados em língua inglesa, a Oceania, a Europa, que têm o inglês como segunda língua, e a América do Norte têm maior participação. No fundo, a América Latina fica muito pouco evidente”, disse. Na edição desse ano (2019) os latino americanos bateram recorde de participação como GL, antes pertencente à turma de 2015, que conseguiu reunir um grupo de 12 lideranças pela primeira infância no World Forum. Na edição passada (2017) esse número caiu bastante devido à crise que se instalou em todo o mundo, resultando em poucos apoios de financiadores.

Na turma que atuará de 2019 a 2020, 15 GL foram selecionados: dois do México, dois da Colômbia, um do Peru, um de Porto Rico e nove do Brasil. Os brasileiros são identificados e selecionados, desde o primeiro ano de participação no evento, entre as as organizações que compõem a Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), parceira do World Forum. “Muito escutei durante o fórum mundial que nunca houve um evento com tantos brasileiros e um grupo tão forte da América Latina. Ao ouvir isso, senti que, sem dúvida, rompemos barreiras nesta coorte. Muita conquista e muita responsabilidade para dividir pela frente!”, disse Ivanna Castro, uma das nove brasileiras selecionadas Global Leader nesse edição e consultora associada da Avante. “É um grupo muito interessante, muito participativo, muito dinâmico e que se destacou no World Forum, em Macau”, observa Maria Thereza.

A importância de participar

Durante sua palestra no World Forum, Maria Thereza alertou que a situação econômica e social é condição para um desenvolvimento saudável das novas gerações e que a instabilidade nas condições de trabalho, migrações forçadas e deslocamentos, além da violência, são contextos que colocam os direitos das crianças em perigo. E é aí onde entra a importância da participação da América Latina nessa dinâmica global. Segundo a presidente da Avante, o continente possui experiências ricas e inovadoras na defesa das crianças, inclusive com políticas públicas já definidas, mais do que a maioria do mundo. “Embora isso não signifique que as políticas públicas tenham uma tradução imediata na prática é um avanço muito grande. Sempre me incomodou muito ver essa sub representação do continente”, comenta.

Maria Thereza citou alguns exemplos: do Brasil, ela destacou o Marco Legal da Primeira Infância – Lei 13257/2015; a inclusão da Educação Infantil como parte da Educação Básica, a própria Rede Nacional Primeira Infância; o Plano Nacional Primeira Infância; a Lei Menino Bernardo – proteção contra qualquer tipo de violência contra a criança; uma Política Nacional de Imunização, que abrange mais de 90% da população infantil, entre outros. Da Argentina: Assistencia Universal por Hijo (AUH). Do Chile: o programa Cresce contigo. De Cuba: Educa tu hijo. Da Colômbia, a lei De Zero a Siempre. Do México: Red por los Derechos de la Infância (REDIM). Do Peru, a Criação do Ministério do Desenvolvimento e Inclusão Social (MIDIS), os Programas Nacionais: Cuna Más e Incluir para Crescer, entre outros.

Para ela, a presença de Global Leaders oriundos dessa região do mundo é importante para dar visibilidade ao continente, mostrar o que vem sendo realizado pelos direitos dessas crianças e atrair apoiadores, financiadores e parceiros, inserindo a América Latina nessa dinâmica global.

World Forum Fundation

A Fundação World Forum é uma organização civil sem fins lucrativos que se dedica a promover uma troca de ideias permanente e global sobre a oferta de serviços de excelência para as crianças de zero a seis anos nos mais diversos ambientes.

Entre os projetos, está o Global Leaders (GL) for Early Childhood, cujo objetivo é identificar, selecionar e oferecer suporte e subsídios a profissionais que militam pela primeira infância em diferentes lugares do mundo. Os GL são agrupados por região, a exemplo de Américas, África, Oriente Médio e Ásia-Pacífico.

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